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Friday, August 14, 2015

Aquele sobre como não adianta pegar o caminho mais fácil

  Foi esquisito como tudo se passou na verdade. Parecia que um filme sobre tudo que tinha acontecido até então começou a passar em sua mente e, não importasse quantas vezes se repetisse, ela sentisse, no fundo de sua alma, que havia algo de errado nele.
 Ela tirou um tempo para analisar minuciosamente aquele filme mental que simplesmente não saia da sua mente, reparou nos personagens secundários, no contexto, no cenário, na lição de moral que ela tirara para si e a aquela atingida por eles. Ela viu como as situações vividas foram maravilhosamente cruéis, belamente contraditórias e terrivelmente necessárias: ela finalmente podia dizer que era SIM uma pessoa forte, que conseguia SIM passar por dificuldades tanto sozinha quanto com o apoio de alguém e simplesmente percebeu seu valor como pessoa.
 Ao mesmo tempo viu um lado mais sombrio da humanidade, viu como o ser humano se transforma com a possibilidade de poder, principalmente com a possibilidade de um poder sobre o outro, viu a inconsequência, a falta de empatia, aquele descaso em manter a mente a aberta para a vida e diferentes pontos de vista.
 O filme apesar de ser feito apenas por imagens rápidas também mostrou algumas verdades: o como escolher o caminho mais fácil nem sempre resulta no sucesso, o como o medo nos bloqueia para seguir nossos sonhos, o como interesse nem sempre pode se transformar em amor. Na maioria das vezes escolhemos o que os outros querem porque está mais alcançável, porque o nosso sonho parece estar dentro de um precipício muito maior do que o da alternativa na nossa frente. É aquele medo de saltar, mas sabendo que não tem outra opção além de pular, escolher a menor queda.
 Mas ninguém nunca disse para ela o que aconteceria quando ela saltasse. O sonho não desapareceria da sua mente, ela poderia estar em queda livre, ganhando velocidade, experiência, mas ficaria só nisso: nada de antecipar a chegada ao destino final, nada de puxar a cordinha do paraquedas e aproveitar a viagem até o objetivo.  Ia faltar uma sincronia entre seu corpo e suas emoções, ia faltar uma paixão.
 Após perceber tudo isso, os filmes do “ e se?” começaram a passaram por sua mente: e se ela decidisse voltar para aquela escolha entre os dois precipícios e pulasse no de seus sonhos? E se ela continuasse no caminho que escolheu, esquecendo de tudo que refletiu no último mês?
 Ela se lembrou de tudo que sentira quando mexeu com aquilo que gostava, se lembrou dos personagens e histórias que deixou de lado para seguir o caminho sem pedras que aparecera na sua frente e se lembrou de uma lição importante que aprendera durante sua jornada até então: algumas situações e pessoas entram na sua vida por motivos especiais.
 São pessoas e situações importantes, mas que possuem um prazo ótimo com o qual precisam ser lidadas. Tempo a menos e nada foi aprendido, tempo a mais e te puxam para baixo.
 Então, em 20 segundos de coragem insana, ela se decidiu. Uma coisa engraçada de sua personalidade era isso: ela refletia, remoía, analisava e reanalisava toda situação, ficando aflita, tendo noites mal dormidas até que, em uma epifania resolvia que rumo seguir e seu coração ficava mais leve e tranquilo, sua determinação inabalável.
 Só que não se para um corpo em queda livre abruptamente, não se faz mudança em um piscar de olho. Enquanto racionalmente ela sabia disso, sabia que precisa-se dar tempo ao tempo, seu coração batia agoniado.
 O coração tem dessas mesmo: quando percebe algo, não consegue desperceber. Quando sente que aquele não é mais o lugar do seu dono, não consegue voltar a tratar tudo como era antes. Ainda mais o coração dela, que é impaciente, é carente por conforto, é tão sensível aos sonhos de sua dona que chega até doer.
 No final das contas o tempo necessário para tudo se resolver ia ser doado, a mente - tentando ajudar esse coração transbordando em necessidade de sentir-se em casa novamente - ia se focar no que ainda podia ser aproveitado de toda essa experiência.
 Foi esquisito como tudo ficou tão claro tão de repente e como todo o futuro continuava aterrorizante. As vezes a vida é isso mesmo: nada fácil, extremamente difícil, mas que nos fortalece a cada segundo que passa. As vezes viver é isso mesmo: sentir medo, sentir o coração pedindo por algo que você ainda não pode dar e saber que é por sentir tudo isso que tudo começa se direcionar para o rumo certo.